Ontem eu me encontrei com Catarina, uma amiga minha de alguns anos. Ela mora no Rio, eu em Volta Redonda, e como estou aqui, de férias em terras cariocas, aproveitamos a oportunidade para nos revermos, tomar uns drinks e conversar.
Apesar da distância entre nós, Catarina e eu temos um assunto em comum que nos mantém próximos - relacionamentos. Sofremos do mesmo mal, um compreende o outro. Sentados em um restaurante em Copacabana, depois de duas caipirinhas de kiwii e de termos rido do seu ex, com nosso humor cínico, Catarina se encostou na cadeira, respirou fundo e mexeu na sua terceira caipirinha com o canudo.
- Eu só não entendo uma coisa - disse ela sem me encarar, pausando pra dar uma bebericada no drink.
- O quê, Cathy?
- Como eu tenho esse dom de repelir os homens?
- Bebê, você não pode estar falando sério. Não está se referindo ao seu ex, porque ele foi um escroto com você do começo ao fim! - respondi eu, exaltado parte por causa do álcool, e parte pelo absurdo que ela me falava.
- Não, Gabe! Aquele mané já está morto e enterrado. Ha! Ele foi muito escroto de fato, mas você sabe, meu querido que eu não sou nenhuma santa. - Nesse momento, ela deu uma gargalhada potente, e depois se calou, olhando vidrada o fundo do restaurante.
- O que é então, Cathy? - perguntei a ela com ternura, reparando a súbita mudança no seu estado de espírito. Catarina respirou fundo novamente.
- São coisas... Gabe? Eu não sou tapada, tenho um senso de humor e geralmente sou uma excelente companhia, e não me acho feia ao ponto de não ser atraente!
- Absolutamente!
- Então, bebê, por que raios ninguém se interessa por mim o suficiente para gostar?
Catarina agora tinha tocado num ponto crucial. De fato, ela não era feia - pelo contrário, não era linda, mas era literalmente uma gracinha, tinha uma excelente personalidade, bem humorada e inteligente com um raciocínio rápido, que fazia ser uma delicia ficar ao seu redor. Por que raios um homem em sua total capacidade de raciocínio ia deixar de se atrair por uma pessoa assim?
Ela então começou a me contar um recente ocorrido com ela. Luiz, 32 anos, webdesigner. Catarina e Luiz se conheceram três semanas antes em um pub em Ipanema, mas quase não se viram depois, pois ele precisava ir a São Paulo por algum motivo não importante. Trocaram Orkuts e Msns, e à partir daí começaram um constante contato. Cathy, minha pequena cínica como sempre não deu muita idéia a esse flerte virtual, pois sabe como são os homens e comoe eles agem quando se dá muita abertura. Mas esse cara parecia ser diferente! Durante uma dessas conversas ela pensou "Que se Foda", e resolveu se abrir ao cara.
Ele sempre empolgado, dizendo que não aguentava de vontade de ver-la, chegou a se declarar apaixonado por ela. Cinco dias depois dessa súbita alegação se encontraram. Catarina foi encontrá-lo no aeroporto, e de lá foram para a casa dele, um conjugado do tamanho de um banheiro em Copacabana, bem equipado ao estilo dos solteirões urbanos modernos. Cathy logo cheirou sujeira aí, mas quando ela viu ele mergulhando uma garrafa de champagne em um balde com gelo, ela passou a sentir cheiro de flores. Tomaram a garrafa enteira, e ao sabor das bolhas, treparam feito cachorros. Na manhã seguinte, tomaram café juntos, e logo após, Catarina se deitou na cama dele e ligou a televisão. Ele se sentou ao seu lado e disse.
- Eu preciso ser honesto com você. Sei dentro de mim, logo que conheço uma pessoa, se consigo me apaixonar por ela ou não. Me desculpa. Me sinto um monstro.
Catharina ficou sem reação, em silêncio, com aquele marmanjo olhando com cara de cachorro chorão para ela.
- Me desculpa! Eu sofro muito com isso! - Ao ouvir isso, Cathy levantou-se, vestiu-se, e saiu do apartamento sem dizer uma palavra.
- Como ele ousa dizer que sofre muito, berrou Catarina dando uma porrada na mesa.
- O cara é uma babaca, bebê. Bom que ele sofra mesmo. Mas não deixe um escroto desses te deixar pra baixo. - eu disse isso, mas sabia ser impossível não se sentir um lixo, mesmo o cara sendo um idiota.
Os homens são seres egoístas, egocêntricos. Isso é um fato inegável. Só conseguem se apaixonar e se comprometer se tiverem uma certa distância para afastar a realidade. A realidade assusta, e essas eternas crianças nunca estão prontas para encarar a realidade. O pior é que sabem disso, e usam romantismo e a idéia de um relacionamento hipotético para conseguir o que querem. Minha amiga, Gabriela, ficou noiva de um bastardo desses, que usou o noivado como forma de conquistar a família dela, e ela própria, para fazer o que bem entendesse, enquanto chifrava a coitada com toda vagabunda que aparecia.
O problema é que sempre nos iludimos, pensando na romântica e utópica ideia de achar um cara diferente. Sonhos. Mas sonhar é bom, te ajuda a buscar objetivos, e o que seria a vida sem objetivos?
Catarina ficou remoendo essa história em silêncio por dois minutos. Depois levantou o copo de caipirinha, e disse:
- Ah! Um dia é da caça, outro do caçador. Vou pisar em alguns homens por aí, pra curar meu ego ferido! - bebeu um gole da caipirinha, e deu mais uma gargalhada histérica.
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Um comentário:
Ai, ai, eu já vi tanto esse filme...
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